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Chefão da Motorola: 5G não vai mudar vida das pessoas de hora para outra

todayagosto 15, 2022 10

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As operadoras estão começando a ativar redes 5G nas capitais, mas os consumidores devem levar um tempo para entender a importância da tecnologia. Essa é a percepção do brasileiro Sérgio Buniac, presidente global da Motorola Mobility, que conversou com exclusividade com Tilt na sede da empresa, em Chicago (EUA).

“O 5G não vai mudar a vida das pessoas de uma hora para outra”, diz Buniac. Mesmo assim, a empresa está de olho no mercado: 60% do portfólio da Motorola no Brasil já é habilitado com a tecnologia, que, aos poucos, deve impulsionar os consumidores a trocar o telefone.

Além de Cristiano Amon, da Qualcomm, Buniac é o único outro líder global brasileiro no ramo da tecnologia. Antes do cargo atual, ele comandou a operação local da Motorola, depois passou a administrar as atividades no cone sul até chegar à presidência global em 2018.

Após se consolidar no segmento intermediário, a Motorola agora quer entrar na briga dos tops de linha. “Nunca vamos abandonar o consumidor que já está com a gente. Vamos investir agora mais no segmento premium, na linha Edge, o que vai ajudar a trazer ainda mais coisas para o Moto G”.

Para Tilt, Buniac fala sobre o que ele levou de “brasileiro” para a operação global da Motorola e como o celular ainda deve mudar muito a relação das pessoas com a tecnologia. A seguir, uma versão editada da conversa:

Tilt: Como o 5G deve influenciar os resultados da empresa? Acredita que vai ter uma troca rápida de celulares por parte dos consumidores?

Sérgio Buniac: O 5G é diferente, pois ele não vai mudar a vida das pessoas de uma hora para outra. Acreditamos que deverão surgir novas aplicações que aproveitem a tecnologia, e nossa parte estamos fazendo: 60% de nosso portfólio no Brasil já é 5G, com uma boa gama de preços.

Estava lembrando quando estávamos iniciando no 4G e as pessoas dizem: “precisa mesmo do 4G?”. Hoje, se você está num lugar sem 4G, parece pré-história, mas na época não tinha Netflix, Uber, entre outros apps.

As operadoras têm metas agressivas e, com o tempo, os consumidores devem aderir aos celulares com a tecnologia.

Tilt: O que você espera para o futuro próximo da Motorola? Em quais áreas a empresa está especificamente de olho?

SB: Estamos investindo bastante em ecossistema. Temos uma ferramenta chamada Ready For, que permite uso do telefone em múltiplas telas. Essa é uma evolução do que acho que vai acontecer no futuro.

Cada vez mais as pessoas vão ter tudo na nuvem, e você andará por aí com seu telefone e vai se beneficiar da conexão em um monitor ou uma televisão, por exemplo.

Temos investido também em software e segurança. Vamos entrar de forma agressiva na linha premium e no segmento jovem. Temos algumas parcerias em que estamos de olho neste segmento e vamos anunciar no futuro.

Tilt: A Motorola sempre esteve concentrada em celulares acessíveis e não muito caros, com a linha Moto G. Era parte da estratégia se consolidar neste ramo para, depois, dar mais atenção para um segmento mais premium?

SB: A ideia do Moto G é que as pessoas não precisam pagar mais para ter experiências incríveis. Hoje os celulares têm bordas menores, menos consumo de energia e som estéreo. Nós não vamos perder isto de vista.

Apesar de ter um histórico de celulares sofisticados, como Moto Z, Droid e V3, vamos investir mais no segmento premium, na linha Edge, que vai ajudar a trazer ainda mais coisas para o Moto G. Então, essas duas linhas se conversam. Você vai ver que existe uma identidade visual em todas as famílias.

A gente acredita firmemente que as pessoas não precisam pagar mais para ter experiências incríveis. Se elas quiserem gastar mais, pois querem inovação, uma câmera melhor, display sem borda, elas têm o direito de fazer isso e tem a linha Edge. Mas nunca vamos abandonar este consumidor que já está com a gente.

Tilt: Como é ser um brasileiro de destaque numa empresa global como a Motorola? Como tem sido essa experiência, dado que você já está no cargo há pouco mais de quatro anos…

SB: Tive mérito, mas tudo é fruto de um trabalho em equipe. Temos um time que trabalha junto e uma cultura concentrada em fazer a coisa certa para o consumidor. Uma cultura de comprometimento.

Com isso, os resultados acabaram vindo, e o Brasil sempre ficou entre a segunda e quarta operação global, mesmo em diferentes culturas — a Motorola já foi uma empresa Google, já foi uma “startup” e agora é da Lenovo.

Estou aqui há 4, quase 5 anos, e quando assumi a empresa vinha de um período de coisas muito boas e perdas financeiras. Meu grande desafio era restabelecer o resultado operacional, o que ocorreu nos primeiros 12 meses.

Fizemos, então, uma mudança de cultura e na linha de produtos. Mesmo assim, mantivemos a inovação, com a primeira chamada 5G aqui nos EUA e com o primeiro telefone dobrável.

Além disso, a gente criou um mecanismo mais eficiente de falar com o consumidor. Fazemos pesquisa online de feedback do aparelho. Hoje a gente consegue detectar problemas e resolvê-los em pouco tempo.

Identificamos, por exemplo, a necessidade dos consumidores de incluir som estéreo para a nova linha Moto G e a linha premium com a franquia Edge. Para isso, fizemos uma parceria com a Dolby Atmos. Quem se beneficia é o consumidor.

Tilt: Qual a importância do Brasil para a Motorola?

SB: Foi no passado e continua sendo um dos cinco maiores mercados do mundo. Durante vários momentos foi número 2, 3 ou 4. É um local em que a gente aprende muito e tem muita troca com outros mercados nossos.

Estamos presentes com fábrica e temos feito um forte investimento em câmera nos últimos anos. Um dos laboratórios que faz desenvolvimentos globais de fotografia e customização para operadoras americanas é no Brasil. Este trabalho é feito em Jaguariúna [cidade do interior de São Paulo].

A fábrica do Brasil é uma das poucas do mundo que conseguem fazer produtos de diversos segmentos. Eu diria que o Brasil conquistou seu espaço, independente de eu estar aqui.

O país também é um laboratório para a Motorola. Sempre fazemos coisas que podem ser escaladas para outras regiões. Os quiosques da Motorola, por exemplo, começaram no Brasil e hoje já temos 150 desses.

Tilt: Como a pandemia afetou a Motorola? Me lembro que em 2020 houve problemas na cadeia de suprimentos.

SB: Tivemos que enfrentar essa pandemia como precursores. Começamos em Wuhan, na China [onde empresa tem fábrica]. Lá aprendemos os cuidados para voltar a trabalhar, pois na época ninguém sabia.

De modo geral, uma das consequências é que a demanda [por produtos] foi maior do que as cadeias de suprimento permitiram, fazendo com que faltassem algumas peças.

A área de suprimentos já está bem normalizada e o pior já passou. Acreditamos que, no segundo semestre, as coisas estarão melhores.

Também vimos uma mudança de comportamento. Antes, era apenas um PC por família e hoje praticamente um por pessoa. Pessoas também tiveram a necessidade de câmera e som de alta qualidade nos celulares.

Como a Motorola é uma empresa Lenovo, estamos aproveitando este ecossistema dos computadores, e muitas coisas vão melhorar como resultado dessa troca de sinergia.

Tilt: Como a Motorola está integrada com a Lenovo? Tem algum movimento para unir mais as empresas?

SB: Sempre existiu e estamos acelerando. Havia algumas questões de infraestrutura e peças da cadeia de suprimentos. Agora, estamos mais na área de experiência de usuário.

Você vai ver maior integração entre computador e celular. Thinkshield, um sistema de segurança da Lenovo, já está disponível em nossos celulares, por exemplo.

O próximo passo é aumentar ofertas para soluções de pequenas e médias empresas que mostrem essa integração entre Motorola e Lenovo.

Tilt: Como vocês têm lidado com as concorrentes chinesas? Chega a ser um problema ou passa longe de ser uma preocupação?

SB: Podemos competir com qualquer fabricante de qualquer região. Não é fácil, mas somos competitivos – não custa lembrar que somos chineses também [a chinesa Lenovo é dona da Motorola Mobility]. Sobre ser uma preocupação é, sim, mas não um problema.

O que importa para gente no fim das contas é o consumidor. Por isso estamos trazendo som estéreo para o Moto G e outras inovações.

Claro que a gente olha a concorrência, mas não é isso que nos pauta, se não estaríamos fazendo coisas no momento errado e de forma equivocada.

Para a gente, o consumidor está na frente de tudo, e a concorrência é algo saudável. Faz com que tanto nós quanto eles se mexam mais rápido.

Tilt: O motivo da minha pergunta é que existe uma presença forte de algumas companhias no mercado cinza [importações feitas por canais não oficiais e que não pagam imposto]. Isso prejudica vocês?

SB: Não estamos de acordo com o mercado cinza. Precisa ter uma equidade: as empresas deveriam ter investimentos e pagar impostos.

Este é um problema da indústria e as pessoas deveriam ter consciência disso. Temos de ser competitivos com o que é correto, e criticar o que não é saudável.

Se for ver, temos fábrica no país e empregamos mais de 8 mil pessoas. Mesmo assim, temos preços competitivos. Às vezes o consumidor tem uma impressão falsa ao ver um produto muito barato, e isso não é legal.

Este tipo de problema [do mercado cinza] se resolve com foco. É uma preocupação presente e sabemos que as autoridades têm tomado ações.

Tilt: Nós já não chegamos ao pico de inovação do smartphone? Hoje em dia não há grandes mudanças: a maioria dos telefones tem câmeras boas, fazem chamada de ótima qualidade e servem para redes sociais.

SB: Nunca. Esta é uma visão conservadora. As pessoas se adaptam à tecnologia. “Eu preciso de 5G? Não sei”. Daqui a 6 anos as pessoas vão pensar: “putz, como eu vivia sem o 5G?”.

É ilimitada a capacidade das pessoas de absorverem tecnologia — o que é bom, pois a sociedade evolui através disso. Não é aqui dentro em si [apontando para o telefone] que a mudança vai vir, mas o que o smartphone vai te habilitar a fazer.

O telefone é pessoal. Então, há recursos de saúde que podem ser habilitados, o que traz possibilidades ilimitadas. É o único dispositivo que está com a pessoa o dia inteiro onde ela estiver. Facilmente, o telefone pode ser seu “médico pessoal”.

E acho que ainda tem muita coisa para acontecer, seja em software, hardware, em ecossistema, em seamless — essa ideia de você estar conectado a várias coisas. Dá para melhorar em latência, em velocidade.

Tem também a parte de hardware. Teremos mais telas dobráveis, como a do Razr, e novos tipos de interação.

Enfim, vamos cumprir nosso papel nessa parte. Tem muita inovação para acontecer ainda.

*O jornalista viajou para Chicago a convite da Motorola

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